quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

saturday night lights

Já que eu ando sem ideias para escrever nesse blog e não gosto de deixá-lo desatualizado, tentarei algo diferente hoje. Vou descrever o que fiz nesse último sábado, precisamente a noite que tive.

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Saindo de Novo Hamburgo, peguei o trem para Porto Alegre junto com meu amigo Gabriel Schmokel, onde encontramos a terça parte desse grupo, Vinícius Bernardes. Combinamos de assistir um show cover de Chico Buarque em um lugar que nenhum de nós nunca tinha ido, uma casa de shows na Cidade Baixa.

O vini mora na CB, o que facilita muito qualquer programa, porque não precisamos nos incomodar com chamar táxi ou Uber ou ter que pegar trem às cinco da manhã e coisa parecida. Tivemos que esperar algum tempo na parada, esperando o ônibus chegar, perto do Mercado Público. Conversamos sobre música e sobre produção autoral. Ainda estou me acostumando com isso, mas é importante. Me manter cada vez mais dentro de uma persona, como um personagem, orgulhoso e que banca a própria obra. 

Depois de pegar o ônibus é rápido de chegar na casa do vini. Ficamos no apartamento assistindo vídeos de Neil Young e Arcade Fire e outras bandas parecidas, conversando sobre mais de um assunto ao mesmo tempo, e quando a fome parecia que ia nos matar, descemos pra jantar pastel.

Feliz descoberta esse pastel na CB, custa seis reais e vem generosamente recheado, diferente de vários pastéis por aí que não tem coisa nenhuma e custam a mesma coisa ou mais. Deu pra ficar satisfeito com o lanche. Andamos um pouco pelas ruas principais da Cidade Baixa, que é o verdadeiro centro boêmio de POA, com uma quantidade inumerável de bares e festas e casas de show e lancherias e etc. etc. com os mais diversos públicos alvo e especialidades e temáticas.

Observa-se um verdadeiro catálogo humano de tipos diversos, mas em geral pessoas bem diferentes daquele padrão classe média moderna. Não são muitos que estão de camisa social e sapatênis, com jeans apertado. Esse perfil se observa mais em baladas sertanejas, e isso eu acho que não tem por ali. O pessoal é mais freak, mais liberal, a moda é piercing, tatuagem, calça rasgada, camiseta rasgada, tênis sujo, e coisa parecida, pelo menos entre os jovens.

Eu gostaria de ver mais engomadinhos por ali, aumentaria a tensão social. Casais improváveis poderiam surgir, se alguma guria com esse estilo punk-moderno desse alguma moral pra um sertanejo-rico-não-vejo-problema-em-nada. Seria shakesperiano. No mínimo, interessante.

Depois de jantar e andar por ali, observando vários comportamentos interessantes e conversando ainda sobre música, sobre o rap atual e Kanye West, a gente foi para o show. Era dez e meia da noite, o horário marcado no Facebook como abertura da casa, mas não tinha ninguém. Pedimos para entrar, e o cara da frente falou que tudo bem, mas que ainda não tinha ninguém, que a festa começava mais tarde. Éramos novatos e ficou claro pras pessoas que estavam na rua fumando. Decidimos então ir embora.

Gostei do comportamento do segurança, afinal, ele poderia não nos avisar nada e entraríamos pra dar de cara com o nada, um lugar vazio por uma hora e meia. Situação bem incômoda.

Então demos uma volta e rumamos pro apartamento. Ficamos conversando, e em certo ponto parecia que todos tínhamos desistido de ir no show, mas o xim foi o primeiro a dizer vamos lá. Era meia noite e meia.

Quando chegamos no lugar, já tinha uma boa quantidade de gente. O show não tinha começado. No Facebook, dizia que começaria à meia noite, mas como já tinham errado na hora de abertura, parei de considerar o evento no site como fonte oficial de informações.

Chegando num lugar desconhecido, a primeira coisa que fazemos é a análise visual. Todo mundo faz isso em todo lugar que entra, isso é inevitável, mas nos desconhecidos o pente é ainda mais fino. Precisei de menos de dez segundos pra saber que a faixa etária média daquele lugar era, pelo menos, uns sete anos mais velha que a minha idade. Rubesci por um momento, mas o raciocínio seguinte foi tão rápido que não deu tempo de me sentir envergonhado de verdade.

O vini e o xim também se sentiram da mesma forma e logo comentaram.

- Eu nunca fui num lugar onde eu era o mais novo - o xim falou, alegre, e foi essa a sensação geral. Era uma alegria gerada pela novidade, por estar vivendo uma experiência inédita.

O show era barato e foi uma das coisas que deu vontade de ir até lá. Só vinte reais. Oquéi, não era uma pechincha. É um preço regular de mercado, mas comparado com ir em uma festa, é barato sim.

Entramos e desbravamos o lugar rapidamente, não era muito grande. O palco logo do lado da porta, a pista bem na frente do palco. Com um recuo de três metros do palco, tinha um bar no canto direito, onde serviam todas as bebidas. Passando pelo bar, uma escada levava a um mezanino do lado direito, na mesma altura que o palco, uma pistinha pra dançar. No fim da escada, logo em frente ficavam os banheiros.

Ficamos parados perto da porta do banheiro, bem no fim da escada. Combinamos de pegar uma cerveja, eu pagaria a primeira e o xim a segunda. O vini não queria beber. Aí veio a primeira surpresa negativa: a cerveja era cara. Doze reais a garrafa mais barata. Estratégia interessante: cobram barato a entrada, oferecem um bom show, e a bebida é cara. O lugar faz o lucro na bebida. Mas se bem que hoje em dia qualquer lugar tem preços absurdos de bebida.

Achamos uma mesinha pra colocar a cerveja e os copos, estava encostada em uma das paredes da pistinha elevada. Passou pouco tempo até o início do show.

Observamos que uma ex-professora de sociologia da escola estava lá. Ela era uma das professoras com mais afinidade em relação aos alunos, mas nessa noite não foi. Acho que ficou uma fera de ver a gente lá.

- Esse lugar não é pra idade de vocês - ela disse, e isso serviu como oi.

- Viemos pra ver o show - eu respondi, enquanto os outros dois respondiam ao mesmo tempo, cada um disse uma coisa e eu não entendi nada.

- A banda é muito boa - foi o que eu ouvi ela dizer depois.

E ficou por isso, ela só passou por nós e não falou mais nada nem nós falamos. Assistimos ao show e em meio as conversas eu fiquei viajando como sempre, observando uma centena de pessoas e como viviam. Umas gurias da nossa idade conversando, um senhor muito mais velho que a média do lugar dançando loucamente, um casal se beijando com muita intensidade, uma outra guria rejeitando mais de um cara que vinha conversar com ela. Como sempre, impressionante. 

O show teve um intervalo de meia hora onde tocaram diversos sambas. Depois do intervalo, a banda apelou para os clássicos. Interessante que, agora, eu lembro de poucas músicas. A Banda, Cotidiano, essas eu lembro, mas a maioria eu esqueci, e nem fiquei bêbado.

Foi um bom show. A banda tinha um saxofonista cabeludo que lembrava um pouco o Kenny G. Foi engraçado quando ele sumiu no meio do show, eu nem tinha notado, só quando ele passou do nosso lado, saindo do banheiro. 

A banda entrou naquelas de chamar todas as músicas de "última", parecia eu quando tenho dinheiro pra beber. Parecia que não ia acabar mais, mas depois de cinco últimas músicas, o show acabou de verdade.

Depois da apresentação, muita gente foi embora, mas não por isso a festa ficou pior. O som que o dj lançou estava excelente, deu uma levantada no astral. Tim Maia, Ed Motta, Gilberto Gil, Nação Zumbi, são alguns dos nomes que eu lembro que tocaram, especialmente porque cantamos e dançamos euforicamente. O vini conhecia todas as letras.

Perto de nós pararam duas gurias da nossa idade, e elas pareciam estar interessadas no vini ou no xim, ou quem sabe nos dois, eu não conseguia dizer. Fiquei observando por um bom tempo, mas parecia que nenhum deles tinham sequer notado. Imaginei que não estavam a fim de nada, e como eu estava fora da história, resolvi não comentar nada com nenhum. 

Elas demoraram pra ir embora, mas só decidimos ir depois disso. O lugar estava praticamente vazio. Pegamos um Uber de volta pra casa, por mais perto que fosse, porque o vini não se sente seguro andando a pé na Cidade Baixa de madrugada. Quando chegamos, demorei alguns minutos para encher o colchão de ar. Combinamos de acordar às sete da manhã. No outro dia, eu tinha que pegar o ônibus de manhã e ir pra casa do meu pai.

Conseguimos acordar no horário certo, sem muita resistência, especialmente porque o colchão de ar estava esvaziando, cada vez mais difícil de dormir.

Nos despedimos e fomos para a parada, a mesma que usamos pra chegar. O ônibus logo veio e pegamos o trem na estação Rodoviária. Na volta, eu e xim conversamos bastante, ele me contando sobre as aventuras noturnas que já teve. 

Depois que descemos do trem, ele foi para o centro pegar o ônibus e eu voltei pra casa. No caminho, sozinho, não parava de pensar que, nessa noite de sábado, eu tinha aprendido tanto...

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